Pesquisa/Texto: Redacção F&H
Os bombeiros estão presentes, desde antanho, nos diversos sectores da vida portuguesa. Assim documenta a fotografia que apresentamos, da autoria do jornalista Joshua Benoliel (1873-1932), considerado como sendo o maior fotógrafo português do início do século XX.
Extraída da Illustração Portugueza, de 13 de Novembro de 1911, a imagem mostra-nos um piquete dos Bombeiros Voluntários de Coimbra (BVC), pronto no seu posto, durante uma prova de bicicleta e motocicleta, com percurso compreendido entre Porto-Lisboa, organizada pela União Velocipédica Portuguesa.
"Intimismo e humanismo" são qualidades reconhecidas na vasta obra de Benoliel, pai do fotojornalismo em Portugal. E isso é possível verificar no cliché, termo empregue naquele tempo significando fotografia ou chapa fotográfica.
A par da firme solidariedade personificada por cada um dos perfilados e da restante caracterização que o momento captado apela e potencia, sobressaem, embora numa outra dimensão do estudo da história, os recursos materiais utilizados pelo serviço de saúde. Neste caso, limitados a uma maca de padiola e a uma caixa-ambulância (em cima do banco), contendo esta, decerto, substâncias e utensílios algo rudimentares mas susceptíveis de assegurarem, com sucesso, a execução de pensos e curativos.
O médico Eduardo Agostinho, actualmente Comandante do Quadro de Honra dos Bombeiros Voluntários de Rio Maior, numa abordagem sobre o "Desenvolvimento do Serviço de Saúde nos Bombeiros Portugueses", inclusa como capítulo de sua autoria no livro "Bombeiros Portugueses. Seis Séculos de História, 1395-1995", descreve o que, vulgarmente, continha uma caixa-ambulância:
"Nos espaços que ocupavam 2/3 laterais eram colocados pacotes de algodão salicilado ou 'phenicado', gaze iodoformada, talas, fio de seda, pastilhas de sublimado, pós de iodofórmio e ácido bórico, ataduras e uma pequena carteira cirúrgica."
Refira-se que, na ausência de carros motorizados, as caixas-ambulância, em madeira ou couro, eram transportadas nos carros braçais e carros hipomóveis, mas também às costas e a tiracolo.
De acordo com os dados históricos pesquisados, a primeira ambulância dos BVC, ao que supomos uma maca rodada, foi adquirida no ano de 1912, prestando serviço sob a designação de Cruz Amarela (o primeiro veículo motorizado, um pronto-socorro, da marca Fiat, surgiu apenas em 1923). Garantiam o seu funcionamento: um médico, um farmacêutico e um bombeiro instruído para o efeito, porventura, alguns dos retratados por Joshua Benoliel, envergando o único tipo de uniforme existente. Para além de desajustado da missão, calcule-se o quanto devia ser incómodo e, como tal, nada prático; calcule-se, ainda, o quanto era difícil ser bombeiro, inclusive pela ausência de equipamento de protecção individual, situação que se arrastou durante décadas a nível nacional.
Tão importantes como os seus pares incumbidos de outras atribuições, os elementos alocados à ambulância atrás mencionada "auxiliavam todo o tipo de sinistrados resultantes de incêndios, transportavam as vítimas e faziam prevenções a espectáculos e a provas desportivas", de resto, conforme dá ideia parcial a herança fotográfica aqui destacada.