Fotos: Arquivo Nacional da Torre do Tombo
O Governo aprovou recentemente o Plano de Emergência e Transformação na Saúde, a fim da melhoria da política sectorial e dos seus resultados.
O assunto leva-nos a fazer uma incursão pela prestação de cuidados médicos e de enfermagem assegurada pelos bombeiros ao nível associativo, facto que lhes confere um lugar de acrescida relevância na história social do país.
O Governo aprovou recentemente o Plano de Emergência e Transformação na Saúde, a fim da melhoria da política sectorial e dos seus resultados.
O assunto leva-nos a fazer uma incursão pela prestação de cuidados médicos e de enfermagem assegurada pelos bombeiros ao nível associativo, facto que lhes confere um lugar de acrescida relevância na história social do país.
A incapacidade do Estado em dar resposta adequada à protecção das populações não se confinou apenas, no passado, ao combate a incêndios.
A própria conjuntura política, embora diferenciada nos seus ideais, quer durante a I República, quer no período do Estado Novo, influenciou a situação ao favorecer a iniciativa privada, considerada indispensável por razões economicistas. No domínio dos bombeiros, não são conhecidas medidas de natureza específica, pressupondo-se que o mesmo tenha estado sempre abrangido e sujeito aos termos gerais da legislação portuguesa sobre assistência ou beneficência.
Diríamos até que, social e culturalmente, se tornou um hábito recorrer ao médico ou ao enfermeiro dos bombeiros, uma vez vistos como solução para os problemas resultantes de diversas maleitas.
Generosidade sem limites
Convém salientar que a presente actividade, de cariz humanitário e solidário, acarretava algum prejuízo para as associações, porquanto, em caso de carência dos pacientes, não havia lugar à facturação dos serviços prestados. Todavia, isto nunca invalidou a sua manutenção e, na medida possível, o seu aperfeiçoamento e ampliação.
Por isso, a sociedade civil reconheceu que era necessário alargar o âmbito da intervenção das associações de bombeiros ao socorro a sinistrados e doentes, através do serviço de ambulância, e aos cuidados de saúde primários, criando para o efeito espaços de atendimento nas suas sedes sociais.
Foi assim que surgiram os postos de socorros dos bombeiros, envolvendo profissionais de saúde no activo ou já reformados, grande parte dos quais fixados nas respectivas localidades e de referenciada reputação, com quem as populações estavam bem identificadas.
A própria conjuntura política, embora diferenciada nos seus ideais, quer durante a I República, quer no período do Estado Novo, influenciou a situação ao favorecer a iniciativa privada, considerada indispensável por razões economicistas. No domínio dos bombeiros, não são conhecidas medidas de natureza específica, pressupondo-se que o mesmo tenha estado sempre abrangido e sujeito aos termos gerais da legislação portuguesa sobre assistência ou beneficência.
Em 1953, num artigo publicado no Boletim da Liga dos Bombeiros Portugueses, o médico António Domingues dos Santos, na qualidade de Director do Posto de Socorros dos Bombeiros Voluntários de Campo de Ourique, referia-se à actuação dos postos de socorros e considerava que estes, pela sua "missão importantíssima", deviam merecer compatível amparo e carinho.
Na generalidade, e mediante condições quase únicas, tal valência das associações de bombeiros passou a representar o principal meio de apoio de muitas populações, afirmando-se pela sua procura e utilidade.
Generosidade sem limites
"Espalhados por vários pontos da cidade e por vários pontos do país, mesmo assim são insuficientes em número, para acudir aos primeiros socorros, com cuja rapidez muitas vezes se defende a vida do nosso semelhante", testemunhava António Domingues dos Santos.
Paralelamente, e pela mesma via, foram-se estreitando os laços de solidariedade entre os bombeiros e as comunidades, concorrendo para um maior incremento do associativismo.
Convém salientar que a presente actividade, de cariz humanitário e solidário, acarretava algum prejuízo para as associações, porquanto, em caso de carência dos pacientes, não havia lugar à facturação dos serviços prestados. Todavia, isto nunca invalidou a sua manutenção e, na medida possível, o seu aperfeiçoamento e ampliação.
Boletim da Liga dos Bombeiros Portugueses
Janeiro/Fevereiro/Março/Abril - 1962
A esse respeito, escrevia também o Director do Posto de Socorros dos Bombeiros Voluntários de Campo de Ourique, no limiar dos anos 50 do século passado: "Associações há que duma maneira geral, vivem da pouca quotização dos seus associados e dos pequenos donativos que recebem, vêem o seu orçamento honerado com as despesas relativas a um Posto. Recorre-se então a todas as medidas de economia."
Com a institucionalização do Serviço Nacional de Saúde, em 1979, e a consequente mudança de atitude do Estado quanto à protecção da saúde dos cidadãos, independentemente da sua condição económica e social, os postos de socorros dos bombeiros vieram a perder impacto.
Não obstante a nova ordem e realidade, ainda hoje existem estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde a cargo de associações de bombeiros. São vestígios da história, exemplos de tradição e compromisso.
Com a institucionalização do Serviço Nacional de Saúde, em 1979, e a consequente mudança de atitude do Estado quanto à protecção da saúde dos cidadãos, independentemente da sua condição económica e social, os postos de socorros dos bombeiros vieram a perder impacto.
Não obstante a nova ordem e realidade, ainda hoje existem estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde a cargo de associações de bombeiros. São vestígios da história, exemplos de tradição e compromisso.
Nas fotos: Posto de Socorros dos Bombeiros Voluntários da Cruz de Malta, por ocasião da sua inauguração (1929). | Instalações do Posto de Socorros do Corpo Voluntário de Salvação Pública de Lisboa (1921).