Pesquisa/Texto: Redacção F&H
Na transição dos anos 20 para os anos 30, a publicidade convidava à modernização dos serviços de incêndios, apresentando as qualidades do mais recente material de combate. E até os próprios bombeiros eram persuadidos a comprar o melhor calçado.
Sem compromisso, venha daí connosco fazer uma ronda pelo mercado.Num tempo de muitas assimetrias entre os corpos de bombeiros portugueses, bem evidentes na respectiva dotação de meios, fabricantes e vendedores de material de combate a incêndios procuravam tirar partido dos anúncios publicados na imprensa, fundamentalmente naquela que privilegiava o recurso à ilustração.
A publicidade, ainda pouco sofisticada no seu impacto visual, tinha já, porém, a força bastante para moldar comportamentos, motivando, por exemplo, que muitos sonhassem com a compra de potentes bombas a motor, substituindo os rudimentares engenhos manuais de outrora.
O número de associações e corpos de bombeiros ao longo do país ainda não conhecera o aumento entretanto verificado por influência do "movimento estorilista" (fundação da Liga dos Bombeiros Portugueses), o qual veio contribuir, também, para o avanço técnico em tudo o que importava ao socorro de pessoas e bens, sobretudo, através da sua perseverança na possível uniformização do sector.
Tanto nas cidades como nos meios provincianos, algum desenvolvimento local, reflectido no surgimento de novas industriais e no uso cada vez mais óbvio da electricidade, o que implicava novos riscos, reclamava dos bombeiros e dos seus serviços compatível adaptação. Não obstante se tratar de um aspecto difícil de tornear, devido à falta de disponibilidade financeira, a verdade é que, com muito custo e quase sempre com a comparticipação das populações e de beneméritos, muitos dos sonhados materiais tornaram-se realidade e passaram a guarnecer os quartéis, desde os modelares até aos mais modestos.
Ao proporcionar o contacto com as novidades da produção industrial, mormente a estrangeira, a publicidade teve um importante papel na transformação, para melhor, dos serviços de incêndios, constituindo por isso uma vertente indispensável no aprofundamento do conhecimento sobre as mutações técnicas verificadas no sector dos bombeiros.
Um convite à compra de materiais de vanguarda
Notabilizada mundialmente, a alemã Magirus fazia enorme sensação com as suas escadas mecânicas construídas em aço, capazes de alcançar os 45 metros de altura, feito nunca antes visto, para o que concorrera o mais aprofundado estudo da melhor engenharia.
Da mesma marca, representada em Portugal pela firma Jayme Firmo Rocha, Lda., proprietária do jornal O Fogo, eram recomendadas as moto-bombas portáteis, centrifugas de alta pressão, tipo Goliath e Roumania.
Por outro lado, como artigos não menos indicados para o socorro, tinham fama as lanternas eléctricas Wootton, as máscaras de fumos e gases tóxicos Degea e os extintores Nuswift, considerados "ultra-rápidos" e cuja configuração se via publicitada como "o mais eficaz de todos os modelos introduzidos em Portugal".
Quanto à compra de mangueiras, a solução também poderia ser encontrada na Jayme Firmo Rocha, Lda., onde a "melhor qualidade" vinda de Inglaterra merecia ser analisada pelos decisores das associações e corpos de bombeiros. Fire-Chiel, Wanguard, Invencivel e Super eram as "inegualaveis marcas" existentes, sendo recomendadas pelos seus efeitos de utilização e pela sua intensidade, suportando pressões entre 18 e 140 atmosferas.
Em contrapartida, a concorrência exercida pela H. Vaultier & C.ª, casa equipada com "os mais modernos e aperfeiçoados maquinismos", apresentava a gama de mangueiras de linho saídas da sua produção: Simplex, Suplex, Triplex e Eaglehose, capazes de resistir, respectivamente, a 10,14, 20 e 30 atmosferas. Por estas e outras vantagens, sabe-se que as mangueiras Vaultier colhiam a preferência do Batalhão de Sapadores Bombeiros de Lisboa e da maioria dos corpos de bombeiros municipais e voluntários.
Noutra vertente, a fábrica de calçado Atlas, sediada no Porto e com depósitos em todo o país, anunciava que os bombeiros deviam preferir o seu calçado, pois "resistência" e "duração" eram garantias associadas à marca tripeira. Destacavam-se as botas de cano alto em couro, previstas nos planos de uniformes de alguns corpos activos, para trabalho e passeio.
A sociedade de consumo daquele tempo estava longe de atingir os desmesurados contornos dos nossos dias, mas a teoria convencionada nos meios académicos já reconhecia os inerentes efeitos na criação de bem-estar e felicidade.