"A tradição não legou, porém, aos portugueses, apenas a fama de navegadores ousados e sapientes, de guerreiros destemidos e de patriotas de rija tempera. Não; em outros ramos de actividade se tem sabido distinguir a lusa gente, e um deles, que é o que nos interessa salientar, é o Serviço de Incendios."
Portugal, país das mais brilhantes tradições, vive ainda um pouco da obra formidável dos ancestros, que nos conquistaram uma aura de grandeza inesquecível, em quási todos os ramos da actividade humana. E dizemos que vive ainda um pouco, porque o progresso tem dado novos rumos à vida num ritmo de tal modo acelerado, que difícil se torna acompanhá-lo, dados os poucos recursos de que a Nação tem disposto, especialmente pela dispersão de energias, que necessário se torna concatenar, dar-lhe coesão, tendo por objectivo o engrandecimento nacional e por exemplo as preciosas lições do passado.
A tradição não legou, porém, aos portugueses, apenas a fama de navegadores ousados e sapientes, de guerreiros destemidos e de patriotas de rija tempera. Não; em outros ramos de actividade se tem sabido distinguir a lusa gente, e um deles, que é o que nos interessa salientar, é o Serviço de Incendios.
Não foi o nosso País dos primeiros a organizar, convenientemente, tal serviço, mas logo que foi dada organização eficiente, pela sábia orientação de Carlos José Barreiros, e a partir de 1868, logo bombeiros houve que souberam distinguir-se e dar lições aos estrangeiros. Estes é certo que mais bem apetrechados, mas os nossos dotados daquela fibra que faz os herois. Estão, assim, as páginas da história das corporações de bombeiros de Portugal recheadas de feitos, que provocam a admiração e a simpatia das congéneres dos outros países. Mas não é só a prática de acções heroicas que dá ao Bombeiro Português a justa fama de que goza; os seus conhecimentos da ciência do fogo e, especialmente, a táctica de que usa no combate, o que é muito sua, dão-lhe direito a impôr-se.
Amadeu Cesar da Silva
2.º Comandante dos Bombeiros Voluntários de Vila Franca de Xira
Excerto de um artigo publicado no Boletim da Liga dos Bombeiros Portugueses, em 1936.
Foto: JN